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NORMAS MORAIS DAS TESTEMUNHAS DE JEOVÁ
As Testemunhas de Jeová encaram a sua religião
como um modo de vida, sendo que todos os outros interesses, incluindo o emprego e a família,
giram em torno da adoração exclusiva que prestam a Jeová, o seu Deus. Assim, não
importa o que façam, tudo deverá ser influenciado pela decisão e juramento que
tomaram de dedicar a sua vida incondicionalmente ao Deus que adoram. A Bíblia é
encarada como um verdadeiro manual de aplicação prática e obrigatória em todos
os campos da vida. Dão grande importância à conduta baseada no que consideram
ser elevados padrões morais que afirmam encontrar nesse livro que consideram sagrado.
Consideram-se neste artigo algumas das normas de moral que governam a
conduta das Testemunhas. Afirmam que estas normas ou padrões de conduta estão
solidamente baseadas na Bíblia, que consideram a vontade de Deus. A violação
destas normas constitui pecado e, se não existirem evidências de arrependimento
genuíno, o pecador impenitente sofrerá a pena da desassociação.
RESPEITO PELA SANTIDADE DA VIDA E DO SANGUE
Sendo que a vida é considerada um dom sagrado pertencente ao Criador, as
Testemunhas consideram como pecado sério qualquer tipo de atitude que coloque
em perigo a sua vida ou a de terceiros.
HOMICÍDIO OU NEGLIGÊNCIA IRRESPONSÁVEL
O homicídio
é condenado bem como qualquer prática que, deliberadamente, ponha em risco a
vida pessoal ou a do próximo. Alguns exemplos do que pode ser considerado falta
de respeito para com a santidade da vida incluem o conduzir ou dirigir sem
cuidado ou de forma irresponsável, a violação deliberada das leis do trânsito,
excesso de velocidade, desleixo na manutenção do automóvel, ou outras situações
que, por negligência clara, possam resultar no ferimento ou morte de alguém. O
mesmo se aplica no desleixo deliberado de regras básicas de segurança no
trabalho ou em casa. Mesmo o simples facto de uma Testemunha ser conhecida por
frequentemente desconsiderar estas regras poderá levar a um aconselhamento
sério.
TENTATIVA DE SUICÍDIO E ATENTADOS À SAÚDE
A tentativa de suicídio é condenada, bem como práticas que atentem contra a
própria saúde, tal como a anorexia
ou a bulimia. No entanto, nestes casos é usual levar-se
em conta a condição mental da pessoa, tal como graves distúrbios psicológicos
ou depressões profundas, procurando-se ajudar a pessoa emocionalmente ou, se
necessário, procurar tratamento médico especializado. O excesso no comer ou no
beber também poderá levar a uma forte admoestação.
PRÁTICAS OU DIVERSÕES VIOLENTAS
Práticas ou desportos violentos que coloquem deliberadamente a vida de
pessoas ou animais em perigo são considerados impróprios. Incluem-se nisto o pugilismo ou
qualquer outra arte marcial, desportos radicais cujo objectivo seja
divertir pelo risco, touradas, lutas entre animais, entre outras diversões
similares.
A agressão ou violência, tal como rixas ou brigas ou agressões verbais é
condenada. Nisto inclui-se a violência doméstica, por exemplo. Mesmo o
visionamento de filmes ou espetáculos que destaquem ou mesmo glorifiquem a
violência são fortemente reprovados.
Sendo objectores de consciência, recusam o
manusear armas de fogo ou mesmo trabalhar na fabricação ou
comercialização de artigos destinados a fins militares. Por esse motivo,
recusam a incorporação em exércitos nacionais ou similares ou a participação em
qualquer tipo de treino militar ou participação
na guerra.
ACESSOS DE IRA
A ira injustificada e descontrolada tem levado muitos a cometerem
pecados maiores, até mesmo a atos de violência. A ira, mesmo quando
justificada, se não for controlada, pode ser perigosa, produzindo maus
resultados. Assim, as Testemunhas consideram que, mesmo quando alguém estiver
sob forte provocação, a pessoa deverá controlar a sua ira. Os acessos de ira
são classificados junto com outras detestáveis obras da carne que impedirão a
pessoa de herdar o Reino de Deus.
Ao passo que a pessoa, ocasionalmente, talvez fique irada, e às vezes
justificadamente, não deve deixar que isto se torne um pecado para ela por
alimentar a ira ou manter-se encolerizada. Entendem que os cristãos devem ser
vagarosos em irar-se, sendo aconselhados a perdoar falhas menores e, em casos
graves, a deixar a retribuição a cargo de Jeová.
INTERRUPÇÃO VOLUNTÁRIA DA GRAVIDEZ
A interrupção voluntária da gravidez,
ou aborto, é condenada como assassínio visto que consideram que após o exacto
momento da fecundação, uma nova vida humana com um código genético
distinto, portanto, uma nova pessoa, foi concebida. Métodos que são
considerados abortivos, portanto, são rejeitados.
USO INDEVIDO DO SANGUE
Visto que encaram o sangue como símbolo da vida, encaram-no como sagrado. Entendem
pela leitura vários versículos bíblicos que Deus reclama como Seu o sangue de
qualquer criatura, como representação de que a vida Lhe pertence. Assim, não
utilizam o sangue animal na alimentação nem o sangue humano, incluindo o seu
próprio, em procedimentos médicos que envolvam o armazenamento ou transfusão.
IMORALIDADE SEXUAL
Visto que encaram as relações sexuais como algo sagrado, por ser o meio
pelo qual a vida é transmitida, apegam-se ao que consideram um elevado padrão
de castidade.
As relações sexuais legítimas, após o casamento,
são consideradas honrosas e um dever do qual nenhum dos cônjuges deverá privar
o seu companheiro. Dão extrema importância à virgindade,
sendo que o sexo pré-marital, ou mesmo demonstrações demasiado íntimas de
afecto entre não casados, são condenadas. A virgindade de rapazes e moças
solteiras é altamente valorizada.
FORNICAÇÃO
A fornicação é considerada um pecado sério. Esta palavra,
derivada do termo grego pornéia, é usada pelas Testemunhas para
descrever, de forma abrangente, todo o tipo de relações sexuais fora do vínculo
matrimonial. Inclui-se no que classificam como fornicação a prática de relações
sexuais entre pessoas solteiras, sexo pré-marital mesmo entre pessoas que
namoram ou estão noivos, adultério, poligamia, homossexualidade,
pedofilia,
incesto e a bestialidade.
CONDUTA DESENFREADA
Determinados excessos chocantes podem revelar uma conduta sem freio, sem
autodomínio.
DE CARIZ SEXUAL
Entendem que determinadas práticas podem ser pecados sérios mesmo que
não sejam incluídas na classificação de fornicação. Isto pode incluir
flagrantes demonstrações públicas de falta de pudor, tal como o nudismo ou
comportamentos que possam ser considerados chocantes no relacionamento entre
pessoas não casadas entre si. O visionamento de pornografia,
através de qualquer meio, e a persistência nesta prática poderá também ser
assim classificada.
OUTROS TIPOS DE CONDUTA DESENFREADA
O uso de linguagem abusiva ou a utilização de palavras obscenas é
fortemente reprovado pelas Testemunhas. O mesmo acontece no que se refere ao
contar de piadas obscenas. Uma atitude que mostra desrespeito, até mesmo
desprezo, para com a lei e a autoridade, seja parental, escolar, governamental
ou divina, pode ser considerada conduta desenfreada.
APOSTASIA
Apostasia
(em grego antigo απόστασις, apóstasis),
deriva do verbo afístemi, que significa literalmente "apartar-se
de". O substantivo tem o sentido de deserção, abandono ou rebeldia. Nas
Escrituras Gregas Cristãs ou Novo
Testamento, o termo é usado primariamente com respeito à traição religiosa,
um afastamento ou abandono da verdadeira causa, adoração e serviço de Deus, e,
portanto, o abandono daquilo que a pessoa antes professava e uma deserção total
de princípios ou da fé.
As Testemunhas de Jeová consideram apostasia o afastamento ou abandono
voluntário das crenças anteriormente aceitas, junto com uma atitude activa, ou
mesmo passiva, em defesa ou promoção de ensinos, doutrinas ou práticas
religiosas, que são claramente contrárias ao entendimento que as Testemunhas
possuem dos princípios bíblicos. Inclui-se nisto o envolvimento em costumes,
tradições ou feriados religiosos, participação em actividades ecuménicas ou a
filiação em outra organização religiosa, prática deliberada de espiritismo ou
aderência a filosofias de cunho cósmico ou gnóstico. Este tipo de coisas
constitui, na opinião das Testemunhas, o passar a praticar outra forma de
adoração.
O contacto com ex-membros que se tornaram apóstatas, ou seja, aqueles
que as Testemunhas classificam como pessoas que deliberadamente disseminam, por
apegar-se de forma obstinada ou por divulgar ensinos contrários à "verdade
bíblica" conforme ensinada pelas Testemunhas de Jeová, pode também ser
classificado como apostasia. As Testemunhas evitam o contacto com os
desassociados e dissociados, seja pessoalmente, seja através de livros críticos
publicados por ex-membros ou por sites que estes mantenham na Internet.
IDOLATRIA
A utilização de ícones, imagens, pinturas ou coisas similares, usualmente
empregues em qualquer ritual ou cerimónia religiosa, é considerado idolatria.
Visto que tais objectos são usualmente considerados pela sociedade em geral
como objectos de cariz religioso, a sua posse enquadra-se na definição de
apostasia sendo assim um pecado sério. De forma sutil, a idolatria pode se
manifestar na adoração de ídolos da música, do cinema ou do esporte, na
exaltação de um modo de vida materialista ou mesmo na promoção do sexo sem
compromissos (segundo a Bíblia, Deus destruiu os adoradores idólatras de Baal,
o deus masculino do sexo e do prazer - Números 25: 1-9. A religião baalista
incluía homens e mulheres que se prostituíam nos templos e orgias sexuais entre
os adoradores, de modo a estimular Baal a fornecer colheitas abundantes. [1]).
PRÁTICA DE "ESPIRITISMO" (BRUXARIA)
Qualquer tipo de prática que envolva o uso de magia, feitiçaria,
consultas a médiuns espíritas, a tentativa de comunicar com os mortos ou com o
oculto, bem como a prática da adivinhação,
que inclui o uso de horóscopos ou signos do Zodíaco,
leitura das mãos ou quiromancia, cartas de Tarot, pranchetas Ouija ou instrumentos
similares, é considerada "espiritismo" (devido às crenças serem em
parte similares às do Espiritismo) e, portanto, é uma forma de apostasia.
Também se considera um erro sério a utilização de rituais supersticiosos ou o
uso de amuletos
da sorte ou objectos similares.
EXCESSOS E VÍCIOS
Qualquer tipo de conduta que se considere flagrantemente excessiva ou
chocante, incluindo o comer e beber, a diversão ou a forma de vestir levará a
forte admoestação.
SUBSTÂNCIAS PASSÍVEIS DE PROVOCAR VÍCIO
O uso de substâncias viciadoras impede que a pessoa exerça plenamente o
autodomínio, uma das características que as Testemunhas consideram ser
essenciais num cristão. Assim, substâncias como o tabaco, ou o mascar
noz
de bétele, por conterem substâncias que provocam a dependência física e por
provocarem danos à saúde são consideradas atentados à santidade da vida e, em
alguns casos, como falta de amor ao próximo. Pela mesma ordem de ideias,
substâncias naturais ou químicas consideradas drogas recreativas são
condenadas. Exceptua-se a isto os casos em que tais drogas são prescritas por
indicação médica. Tal como acontece com as bebidas alcoólicas, mesmo o consumo
de bebidas como o café ou o chá, apesar de não serem encaradas como erradas em
si mesmas, deverão ser evitadas caso a pessoa perceba que começa a criar
dependência.
ROUBO E FRAUDE
Segundo as Testemunhas, roubar ou defraudar são pecados sérios aos olhos
de Deus e revela falta de amor ao próximo. A fraude pode ser definida como uso
intencional de engano, embuste ou deturpação da verdade, com o fim de induzir
outro a ceder alguma coisa valiosa que lhe pertence ou a desistir dum direito
legal. A fraude, conforme considerada na Bíblia, em geral é associada com
relações comerciais.
Crêem que até mesmo um pequeno roubo pode fazer com que o coração da
pessoa fique endurecido. Incluem no roubo, não apenas o acto de furtar um
objecto, mas também o incumprimento intencional de deveres assumidos, como por
exemplo não prestar o horário completo de trabalho, utilizar sem autorização
recursos que pertencem ao patrão ou a outros, o não pagamento de serviços
contratados sem justificativa, entre outras práticas similares. O uso de
instrumentos de medida intencionalmente falsificadas, tal como as balanças, são
um meio fraudulento de enganar o próximo. A desonestidade em todas as áreas da
vida é fortemente condenada. Isto inclui a sonegação deliberada de impostos
devidos ao Estado ou a autoridades devidamente constituídas.
Devido a esta atitude, as Testemunhas são bem conhecidas mundialmente
pela sua honestidade [2],
sendo muitas vezes procuradas para ocuparem tarefas de responsabilidade, ou
para o manuseio de dinheiro ou bens de valor, em empresas preocupadas em evitar
empregados desonestos [3].
MENTIRA INTENCIONAL E CALÚNIA
Para as Testemunhas, mentir geralmente envolve dizer uma falsidade a
alguém que tem o direito de saber a verdade, e fazer isso com a intenção de
enganar ou prejudicar a este ou a outro. A mentira nem sempre precisa ser
verbal. Pode ser expressa também em ação, quer dizer, alguém pode viver em
mentira, numa vida dupla, dando a impressão de ser o que não é. Assim,
transmitir coisas que se sabem não ser verdade ou mesmo omitir a verdade pode
ser considerado um erro sério.
Calúnia é difamação, em geral maliciosa, seja oral, seja escrita. Há
certos assuntos que são confidenciais, mas o caluniador tem gosto em revelá-los
a outros que não têm o direito de conhecê-los. O caluniador tem prazer em
revelar coisas que provocam sensacionalismo. Quem ouve a calúnia também está
errado e prejudica a si mesmo. Uma pessoa talvez se afaste dos amigos por causa
de algum comentário difamatório sobre eles, feito pelo caluniador, talvez
resultando em inimizades e divisões.
GANÂNCIA E JOGATINA
Para as Testemunhas, a ganância é
o desejo descomedido ou excessivo de ter mais, quer seja dinheiro, quer bens,
poder, sexo ou outras coisas. Quando a ganância tem por objectivo conseguir
aquilo que pertence a outro, ela se torna cobiça. Assim,
quando alguém, movido por tal desejo desmedido, relega para segundo plano os
seus deveres cristãos, pode vir a ser admoestado por tal erro sério.
Apesar de não encararem o desporto competitivo ou o jogo como errados em
si mesmos, a ambição desmedida de ganhar é considerada um erro. A jogatina é
definida como qualquer tipo de jogo ou aposta que envolva dinheiro, mesmo que
sejam pequenas somas. Entendem que coisas como a lotaria, bingo, jogos de casino e similares,
promovem um espírito de ganhar à custa dos outros ao invés de um espírito de
generosidade e partilha com os que estão em necessidade. Em muitos casos, o
jogo a dinheiro pode tornar-se viciante e implicar na perda considerável de
recursos financeiros às vezes essenciais à sobrevivência do jogador ou da sua
família.
ENVOLVIMENTO EM ACTIVIDADES POLÍTICAS OU MILITARES
As Testemunhas definem neutralidade como a posição assumida por aqueles
que não se colocam do lado de nenhum de dois ou mais partidos em disputa nem
lhes dão apoio. Para elas, neutralidade significa a não interferência no que
outros fazem no que diz respeito a participarem em cerimónias patrióticas,
servirem nas forças armadas, unirem-se a partidos políticos, buscarem um cargo
político ou votarem num candidato partidário ou político.
DESASSOCIAÇÃO E DISSOCIAÇÃO
As Testemunhas fazem questão de ser encarados como exemplos na
comunidade em que moram, incluindo no cumprimento das suas obrigações
escolares, laborais e civis, evitando práticas tal como o suborno, a mentira, a
fuga aos impostos, práticas comerciais desonestas, entre outras. No entanto,
afirmam aderir à Lei de Deus antes que à dos homens e, assim, recusam
imposições legais que violem as suas consciências treinadas segundo os ensinos
bíblicos aprendidos, mesmo que isso implique a perda de privilégios de
cidadania, a liberdade ou mesmo a vida. Portanto, quem viola flagrantemente os
princípios que jurou defender, e não se arrepende, deve ser expulso da
organização para a defesa do bom nome desta e do Nome Santo que as Testemunhas
portam sobre si. Tal acção é conhecida em termos religiosos por excomunhão,
sendo usualmente empregue o termo desassociação entre as Testemunhas.
Transgressões graves contra as suas normas morais e religiosas, tais
como as referidas neste artigo, cometidas por parte de uma Testemunha podem
levar à expulsão da organização, após decisão de Comissões Judicativas
congregacionais. Uma Comissão Judicativa, formado por pelo menos três anciãos
da congregação, julga a acção pecaminosa à luz do seu entendimento da Bíblia
mas, independentemente da gravidade e notoriedade do pecado perante a
congregação ou a comunidade local, a expulsão só ocorre nos casos em que se
estabelece que o transgressor não demonstra genuíno arrependimento por insistir
na prática continuada do pecado, por não lamentar o erro ou por não reparar os
eventuais danos provocados a terceiros.
Por exemplo, a jogatina, extorsão, calúnia, furto, embriaguez, uso não
medicinal de drogas, tabagismo, fornicação, homossexualidade, poligamia,
casamento incestuoso, violência de qualquer espécie, assassínio, interrupção
voluntária da gravidez, abuso sexual de menores, entre outros pecados de
natureza bíblica, são consideradas transgressões sérias da Lei de Deus,
passíveis de desassociação caso o errante não demonstre arrependimento. Ao se
informar a congregação local sobre a desassociação de um dos seus membros, os
erros cometidos pelo transgressor nunca são mencionados por respeito à sua
privacidade e também pela obrigação moral e legal de guardar confidência por
parte dos anciãos.
O PAPEL DO ARREPENDIMENTO
A desassociação de alguém só ocorre caso se entenda que a pessoa,
independentemente do que praticou, não está realmente arrependida do seu
proceder. O transgressor, naturalmente, deve ter sentimentos de tristeza,
remorso e pesar com respeito ao seu proceder pecaminoso. Deve deplorar
profundamente o erro, reconhecendo-o como pecado contra Jeová, passando a odiar
o proceder errado, abominando-o. A sua preocupação primária não deve ser tanto
com as consequências desagradáveis da sua transgressão, mas, em vez disso, deve
preocupar-se com o mau nome que lançou sobre Jeová, o Deus que adora, e a
organização a que pertence. Deve sinceramente deplorar ter prejudicado a sua
relação com o Altíssimo.
A pessoa que está verdadeiramente arrependida deve demonstrar frutos
próprios. Isto inclui fazer empenho razoável para endireitar os assuntos ao
ponto que fôr possível, especialmente se magoou ou prejudicou directamente a
outros. Também, se não estiver positivamente resolvido em voltar atrás e passar
a seguir um proceder certo, haveria sérias dúvidas sobre a genuinidade de seu
arrependimento.
Caso uma Comissão Judicativa considere que o errante está genuinamente
arrependido, não se decidirão pela desassociação. Ainda assim, não deixarão de
admoestar e aconselhar a pessoa, dando-lhe ajuda bíblica para prosseguir no
caminho correcto. Também, é normal que sejam impostas algumas restrições à
pessoa, tal como retirar a sua matrícula da Escola do Ministério Teocrático ou
não permitir a sua participação em tarefas congregacionais. Visto que, apesar
de arrependida, a pessoa não é mais um exemplo, perderá certos privilégios
especiais que talvez exercesse, tal como servir como Ancião ou Servo Ministerial,
Pioneiro Auxiliar, Regular
ou outros similares.
COMO ENCARAM OS DESASSOCIADOS
A desassociação é a sanção religiosa máxima quando os membros da
Comissão Judicativa entendem que a pessoa não manifesta arrependimento do seu
erro sério. Sempre que o julgado considere ter havido erros na condução da
acção judicativa, este tem o direito, no prazo de sete dias, de recorrer por
escrito para uma nova Comissão, chamada de Comissão de Apelação, que sustentará
ou reverterá a decisão anterior.
Se a decisão for a desassociação, tal informação é transmitida
brevemente a toda a congregação o que implica que todos os publicadores
cessarão de ter convivência religiosa e social com o culpado a partir desse
momento. Não mais é considerada uma Testemunha de Jeová e a convivência social é
reduzida ao mínimo possível. A pessoa expulsa não é encarada como um descrente,
que não conhece a Deus, nem segue um modo de vida piedoso. Antes, ele já
conheceu o caminho que as Testemunhas consideram ser a verdade, mas abandonou
esse rumo e seguiu impenitentemente o pecado, ao ponto de ter sido expulso.
Portanto, ele é tratado de maneira diferente, sendo que os seus anteriores
companheiros deixarão de lhe dirigir a palavra, nem sequer os cumprimentando.
Isto se aplica também a familiares, pais, filhos, amigos, etc, gerando a 'morte
social' do ex-membro. As Testemunhas baseiam esta decisão nos seguintes
versículos bíblicos:
· 1 Coríntios 5:9-13
"Escrevi-vos para não vos relacionardes com gente imoral. Não quis
dizer-vos que devíeis separar-vos dos imorais deste mundo, ou dos avarentos,
ladrões e idólatras; se assim fosse teríeis que sair deste mundo! Não! Escrevi
que não deveis associar-vos com alguém que traz o nome de irmão, e no entanto é
imoral, avarento, idólatra, caluniador, beberrão ou ladrão. Com pessoas assim,
não deveis nem sequer sentar-vos à mesa. Porventura compete a mim julgar
aqueles que estão fora? Não os de dentro que deveis julgar? Deus é quem vai
julgar os que estão fora. Afastai do meio de vós o homem mau." (Bíblia Pastoral, Sociedade Bíblica Católica
Internacional, Edições Paulistas)
· 2 João 9-11
"Todo aquele que prevarica, e não persevera na doutrina de Cristo,
não tem a Deus. Quem persevera na doutrina de Cristo, esse tem tanto ao Pai
como ao Filho. Se alguém vem ter convosco, e não traz esta doutrina, não o
recebais em casa, nem tampouco o saudeis. Porque quem o saúda tem parte nas
suas más obras." (Almeida, Versão Corrigida e Fiel)
Assim, entendem que o procedimento dos membros de uma organização, seja
ela qual for, decidirem cortar totalmente o relacionamento social com outra
pessoa que violou regras estabelecidas e que as havia aceitado solenemente é um
direito que lhes assiste. No caso da desassociação, entendem que se trata de um
direito legítimo duma religião no exercício da liberdade religiosa.
A desassociação, evidentemente, não rompe os laços familiares. O
desassociado poderá ser casado com alguém que permanece como Testemunha de
Jeová. Os privilégios e deveres ou obrigações conjugais não são tocados. Ainda
assim, o cônjuge que se mantém como Testemunha evitará falar de assuntos
religiosos, excepto quando se manifestar que existe clara manifestação de
arrependimento por parte do errante, talvez demonstrando que pretende voltar à
organização. No caso de filhos que vivem com os pais ou irmãos que são
Testemunhas, é dever dos pais Testemunhas continuar a incluir o filho
desassociado nas actividades familiares, inclusive naquelas que envolvam o
estudo da Bíblia em família ou a comparência às reuniões religiosas no Salão
do Reino. No caso de laços familiares mais distantes, recomenda-se que
convivência social seja mantida no mínimo possível. As Testemunhas de Jeová
incentivam que se trate ex-membros, principalmente aqueles que adquirem alguma
crença diferente do padrão estabelecido pelo Corpo Governante (classificados
como "apóstatas"), como "doentes mentais", ou como tendo
alguma "doença contagiosa", reforçando tais argumentos como vindo de
Jeová, o "Grande Médico". Espera-se que os danos familiares e sociais
sejam tão devastadores que obriguem a pessoa a "cair em si".
Também, a desassociação não liberta o empregador ou o empregado que é
Testemunha de Jeová de continuar a cumprir as suas obrigações para com a pessoa
que foi desassociada. O mesmo acontece quando existem relações comerciais que
exijam o contacto com tais pessoas. Ainda assim, as Testemunhas são
incentivadas a manter os contactos restringidos ao mínimo e apenas restritos
aos assuntos comerciais ou legais que têm entre si.
Alguns críticos não concordam com este posicionamento das Testemunhas
considerando que viola direitos humanos. Alguns até mesmo dizem que isso é uma
discriminação e movem ações jurídicas contra a religião[4].
As Testemunhas de Jeová alegam que se trata de um direito legítimo que lhes
assiste, que essa disciplina é uma expressão de amor e que possui base bíblica.
DESASSOCIAÇÃO CONSIDERADA UMA EXPRESSÃO DE AMOR
As Testemunhas de Jeová consideram a desassociação ou excomunhão como
uma expressão de amor a Jeová e às suas leis. Crêem que tal prática defende
amorosamente o Nome Santo de Deus, que têm orgulho em divulgar com consciência
limpa. É prova de amor também pelas pessoas cuja conduta é justa, porque remove
do meio delas aqueles que poderiam ser uma má influência ou que lhes poderiam
trazer má reputação na comunidade. É um ato de amor porque protege a
congregação, especialmente os mais jovens ou inexperientes, da influência
corrompedora do pecado. Também demonstra amor pelo transgressor, porque lhe
prova que o pecado não é tolerado, tal como o próprio errante afirmou acreditar
quando se batizou. Isto o poderá encorajar mais tarde a abandonar a sua atitude
impenitente e a arrepender-se procurando a readmissão. Todos os anos, milhares de
tais pessoas desassociadas solicitam o seu regresso à organização das
Testemunhas de Jeová.
DISSOCIAÇÃO
A dissociação consiste na exclusão voluntária de alguém,
indicando ou não os motivos disso. Não se trata simplesmente do caso de alguém
que deixa de assistir às reuniões ou que não participa mais no ministério de
evangelização. Neste último caso, a pessoa é simplesmente considerada inactiva,
ou seja não mais é contada como publicador da congregação.
Ao contrário, quem se dissocia fá-lo deliberadamente, por expressar essa
vontade diante de testemunhas, por escrever uma carta ou por determinadas
acções que provam que a pessoa não deseja mais ser conhecida como Testemunha de
Jeová. Os membros da congregação encararão tal pessoa como fariam como um
desassociado, visto que entendem que o que se afasta viola o juramento que
efectuou por ocasião da sua dedicação voluntária a Deus e que expressou
publicamente no dia do seu batismo. Aplicam-se os mesmos preceitos
anteriormente apresentados com respeito aos que são desassociados.
READMISSÃO
Os anciãos congregacionais procuram contactar os ex-membros que parecem
ter abandonado o proceder que os levou à sua exclusão. Fazem isto pelo menos
uma vez por ano, caso os visados aceitem a visita na qual os ancião animam a
pessoa a fazer os necessários arranjos na vida para se harmonizar com as normas
de moral que antes defendia.
Caso a pessoa expulsa decida voltar à associação com os seus
ex-companheiros de adoração pode solicitar a sua readmissão. Isto poderá ser
feito após se ter passado tempo suficiente, muitos meses ou mesmo anos, para
que a Comissão Judicativa reconheça que existe agora genuíno arrependimento e a
rejeição definitiva da prática do pecado. A pessoa deve reiniciar a sua
assistência às reuniões das Testemunhas de Jeová, no Salão do Reino, mesmo
sabendo que os demais não lhe dirigirão a palavra. Após algum tempo, a pessoa
poderá dirigir uma carta solicitando a sua readmissão ou reintegração, assunto
que a Comissão Judicativa analisará, decidindo se é possível a reintegração ou
se é necessário mais tempo para que haja certeza da motivação da pessoa.
Se a Comissão Judicativa aprovar a readmissão, a pessoa poderá ser
reintegrada passando por um período de recuperação gradual dos seus privilégios
de serviço, tal como o direito de participar nas reuniões. Poder servir em
posições de ensino ou de responsabilidade levará mais tempo, consoante a
gravidade do caso ou o tempo de afastamento.
ESTATÍSTICAS SOBRE EX-MEMBROS
Os números anuais dos desassociados são por vezes mencionados em
Assembleias e Congressos, na revista A Sentinela,
no Anuário das Testemunhas de Jeová
e no periódico mensal Nosso Ministério do Reino, indicando valores
mundiais ou dados referentes a um determinado país em particular.
Por exemplo, a revista A Sentinela mencionava na sua edição de 15 de
Novembro de 1974, pág 685:
"Nos Estados Unidos [...], durante o período de dez anos, de 1963 a
1973, 36.671 pessoas tiveram de ser desassociadas por diversas espécies de
sérias transgressões. Contudo, no mesmo período, 14.508 pessoas foram
readmitidas, aceitas novamente nas congregações, por causa de seu sincero
arrependimento."
Também, na sua edição destinada ao Brasil, o periódico mensal Nosso
Ministério do Reino de Maio de 2004 informou:
"No ano de serviço de 2003 houve 7.230 desassociações por motivo de
imoralidade sexual, no Brasil".
Referia que esse número representou 83% de todos os desassociados
naquele país. Informou ainda que, em igual período, 4.343 pessoas foram
readmitidas entre as Testemunhas brasileiras.
Quanto a dados mundiais, o Anuário das Testemunhas de Jeová de 1979,
pág. 23, informa que 29.893 haviam sido desassociados no ano anterior. A
revista A Sentinela de 1 de Janeiro de 1986, pág. 13, indica o número de 36.638
com referência ao ano transacto. A edição de 15 de Setembro de 1987, pág. 13,
refere 37.426 desassociados em 1986. Mais de 41 mil foi o valor indicado
referente a 1988 na edição de 1 de Dezembro de 1989, pág. 17. Durante os
primeiros anos da década de 90 do Século XX, os valores parecem ter-se fixado
por volta dos 40 mil desassociados e dissociados anuais, a nível mundial,
conforme se pode observar na revista A Sentinela, nas edições de 11 de Novembro
de 1991, pág. 9, e 1 de Abril de 1994, pág. 16.
REFERÊNCIAS
1.
↑
"Toda a Escritura é Inspirada por Deus e Proveitosa", Destaque do
Livro de Juízes, página 47, § 7
2.
↑
A
Sentinela de 1 de Junho de 2005, página 8
3.
↑
How to Be Invisible: The Essential Guide to Protecting Your Personal
Privacy, Your Assets, and Your Life (Revised Edition), de J. J. Luna,
publicado em 2004 pela Editorial das Islas, EUA, aconselha os
empregadores a procurar membros activos de certos grupos religiosos, mas acrescenta:
"Na prática, acabamos por ficar com as Testemunhas de Jeová." Entre
os motivos apresentados, afirma-se que elas são bem conhecidas pela honestidade
e que por isso são "muito requisitadas" em diversos campos. Na página
84 acrescenta-se: "Muitas pessoas que não são Testemunhas telefonam para
os Salões do Reino à procura de quem precisa de
emprego"
4.
↑
Luiza Bandeira (29 de julho de 20). Procuradoria
acusa Testemunhas de Jeová de discriminação. Folha.com. Página visitada
em 18 de agosto de 2011.
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